A vida é uma espiral. Ela gira, gira com o mundo, e nas voltas que o mundo dá, vai a vida passando. Girando com a Terra. E a forma espiral da vida, pode se transformar num tornado, num turbilhão. Na forma da água escoando pelo ralo.
Me pergunto, até quanto a vida aparente da maioria das pessoas é normal? Como transitam pela espiral? No sobe e desce?!
Semana passada meu secador de cabelos estourou na minha mão, enquanto secava os meus diante do espelho do banheiro. Fio tostado prum lado, secador queimado pro outro. Quase pega fogo no meu cabelo. As luzes piscaram. As pessoas se assuntaram Nunca, pelo menos ali, viram um secador explodir. Nem eu. Assim como nunca vi uma parede deixar de funcionar. Bom, não é bem a parede que não funciona, mas as tomadas que até hoje de manhã ligavam a TV, o telefone sem fio e a luz do corredor acendia, de noite não funcionavam mais. E o lance do secador não tem nada a ver com as tomadas. As paredes nem ao menos se comunicam. Estranho, né?
Ai pensei num pequeno romance. Um homem e uma mulher aposentados. Ele viúvo. Ela viúva divorciada. Ele culto, falante, independente e chato. Ela inteligente, ativa, aparência refinada e chata. Se conhecem na fila do banco. O acaso fez com que eles se encontrassem todas as vezes no mesmo dia e horário. Com o tempo, a coincidência os torna amigos.
Um dia depois do banco, ele a convida para tomar um café, numa padaria próxima. Ela aceita, relutante, por insistência dele. Ele conta sua vida. Por cima. Ele fala pra caramba. Ela tb, mas naquele momento preferiu escutar. E ele falou da falecida, do único filho médico, dos tempos de delegado. Ela logo entendeu que ele deveria ter uma boa aposentadoria. Não disse nada sobre a vida dela. Despediram-se com um breve aperto de mãos e combinaram de encontrarem-se novamente na fila do banco.
E lá estavam eles no dia secretamante marcado pelo acaso, que secretamente eles sabiam quando era, para se verem. Dessa vez ele a convidou para jantar.
Numa cantina italiana no Bexiga, ele a ouviu, porque ela falou de TODA sua vida. Do ex-marido falecido que foi péssimo pai e marido, que ela ainda luta com dificuldadepela sobrevivência, que ela não pode contar com os filhos etc etc e tal. Ele, delicadamente, mudou de assunto. Filosofou. Contou sobre suas teorias anti-semita, religião etc etc e tal.
Hora de pagar a conta. Ela se oferece pra rachar, contrariando sua aversão a mulheres que ajudam a pagar a conta. Ele recusa, como um cavalheiro, mesmo porque a cantina é boa e barata, além do que eles tomaram refri, embora ela tivesse o desejo recolhido de que preferia ter tomado um bom vinho.
Ele a levou para casa. Despediram-se.
Ela deitou-se na cama pensando no momento especial que estava vivendo. Pensou:
" Bom, ele deve ter uma boa aposentadoria. Bem que podia dar certo entre a gente. Aí , se ele morrer logo, eu posso ficar com a aposentadoria dele!"
Ele, dirigindo de volta pra casa, pensou:
" Ela é uma bela mulher. Mas não sei não. As mulheres hoje em dia só querem saber do dinheiro da gente. Vai que essa daí tb tá de olho na minha aposentadoria?"
CARALHO!!! Será que não existe boa intenção em nenhum estágio da vida?
